segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Espírito


a quilometros de distância
na noite escura, fria
entre um chuvisco e outro
sentiu aquele cheiro
mesmo de tão longe
era muito nítido
resolveu procurar.

guiado pelo cheiro malvado
passou por entre os prédios
quietos e iguais
o cheiro havia escolhido um de seus lugares preferidos
na ingênua intenção de calma
e cada vez que se aproximava
percebia que o cheiro exalava
descontroladamente.

foi quando encontrou de onde vinha
ahh que maravilha observar
ela tinha aquele sorriso fácil que esconde toda a incerteza
as pernas trêmulas disfarçadas pelo caminhar
e o olhar nervoso pelo canto dos olhos
de quem não consegue esconder
a inquietude daquelas pernas.
os esquecimentos eram os mais bobos
a procura era irritante desesperada
por assuntos aleatórios talvez interessantes
e o pensamento mortífero de nada saber
com exceção de uma única certeza:
a de estar errando
irremediavelmente.
como era lindo sentir o cheiro tomando conta dela
poder ver agora cada mínimo detalhe de suas expressões
a cautela, o raciocinar de um movimento
a busca incessante pela naturalidade
o azul transtornado dos olhos
e o abafar da taquicardia estúpida.

o cheiro agora se misturou com a fumaça
se tornou inconsciente
colorido, encantador
mas continuava lá
talvez mais leve
talvez mais calmo
disfarçado, quieto pela névoa..

e ele ali observando ela
perdida no meio daquela ilusão
apaixonado pelo cheiro
apaixonado por aquela paixão
pela vibração nervosa emanada
e ela ali sem perceber que continuava exalando
inebriante
o cheiro da ansiedade

Nenhum comentário:

Postar um comentário